A nação Efon
Uma breve introdução sobre essa tradição religiosa
A Nação Efon tem suas raízes na região de Efon Alaaye, no sudoeste da Nigéria, uma das mais antigas civilizações iorubás, com origens que remontam a Ilê Ifé, berço dessa cultura. No Brasil, a tradição Efon estabeleceu-se de forma significativa com a fundação do Asé Oloroke, também conhecido como “Asé Yangba Oloroke ti Efon” ou simplesmente Terreiro do Oloroke, que se tornou a matriz da Nação Efon no país.
Esse importante terreiro foi estabelecido na cidade de Salvador, Bahia, por Maria Bernarda da Paixão, conhecida como Iyá Adeboluie ou Maria Violão, e José Firmino dos Santos, chamado de Babá Irufá ou Tio Firmo Olufandeí. Ambos eram negros escravizados trazidos ao Brasil por volta de 1850, como parte da diáspora afro-atlântica. Tio Firmo era filho de Osun e iniciado em Ifá, enquanto Adeboluie havia sido iniciada em sua terra natal para o orixá Olookè.
Mesmo antes de serem libertos, Tio Firmo e Maria Bernarda já desempenhavam um papel ativo na preservação das tradições africanas, promovendo e participando de encontros religiosos. Eles também eram membros da Irmandade da Igreja da Barroquinha, um importante ponto de encontro para os fundadores da Casa Branca do Engenho Velho. Relatos orais de pessoas antigas do Efon, indicam que Maria Bernarda era prima da primeira Yalorixá da Casa Branca.
Por volta de 1860, Tio Firmo e Maria Bernarda fundaram o Asé Oloroke no Engenho Velho de Brotas, onde o Asé de Oxun foi plantado. Esse ato não apenas deu origem ao terreiro, mas também estabeleceu a Nação Efon no Brasil. Mesmo após a abolição da escravidão, a perseguição aos cultos afro-brasileiros continuou intensa, e Tio Firmo enfrentou várias prisões por sua fé. Após a assinatura da Lei Áurea em 1888, plantou-se a árvore do Iroko, um símbolo primordial do terreiro.
Tio Firmo faleceu por volta de 1905, deixando a liderança do terreiro para Iyá Adeboluie, que se tornou a mãe de santo da casa. Ela foi responsável por iniciar várias figuras importantes, como Mãe Milu, Matilde de Jagun, Cristóvão Lopes dos Anjos de Ogun Já, Celina de Yemonja, Paulo de Sango e Crispina de Ogun, entre outros.
À medida que Adeboluie envelhecia, Mãe Milu, Matilde de Jagun, e o filho carnal de Matilde, Cristóvão de Ogun Já, assumiram responsabilidades crescentes no terreiro, todos eles iniciados por Adeboluie, que faleceu em 1935. Com sua morte, Matilde de Jagun passou a liderar o Asé Oloroke. Em 1947, Cristóvão, que até então estava com sua mãe no terreiro Oloroke em Salvador, decidiu levar a tradição Efon para o Rio de Janeiro. Após desentendimentos com sua mãe, ele se mudou para Duque de Caxias, acompanhado de alguns filhos de santo, e em 1950 fundou o Ilê Asé Ogun Anauegi Igbele ni Oman, conhecido como Asé Pantanal.
Infelizmente, o antigo terreiro Asé Oloroke, em Salvador, não existe mais. No local onde ele se situava, no número 12 da Travessa Antônio Costa, no Engenho Velho de Brotas, hoje funciona uma oficina de carros. No entanto, em Duque de Caxias, o legado de Pai Cristóvão continua vivo. Ele liderou o Asé Pantanal até seu falecimento em 1985. Após sua morte, em 1994, sua neta carnal, Mãe Maria de Xangô, assumiu a liderança do terreiro, onde permanece até os dias de hoje.
Orixá Olorokê, o patrôno do Efon
Orixá Olorokê, também conhecido como Olooke, é o mestre das montanhas e o patrono do Efon. Esta divindade respeitada tem uma importância que remonta aos tempos da criação. Olorokê simboliza a primeira ligação entre Orun e Aiye (Céu e Terra), sendo a primeira terra firme que emergiu do fundo do mar a pedido de Olodumare, com a ajuda de Oroinã e Olokun.
Segundo o mito da criação, no princípio do mundo, apenas Yeye Olokun, a deusa do oceano, e Olodumare, o Deus supremo, dominavam as águas que cobriam toda a Terra. Sentindo-se entediado com a uniformidade aquática, Olodumare ordenou a Oroinã, o Fogo Universal e a força vital da existência, que criasse a primeira montanha. Assim, uma colina emergiu como um vulcão em erupção, com lava vulcânica trazida das profundezas da Terra. Esta lava foi resfriada por Olokun, resultando na criação de Olorokê, a montanha sagrada e divindade conhecida como o senhor das montanhas.
Após a criação de Olorokê, Olodumare reuniu todos os Orixás Funfun na montanha e atribuiu a cada um deles um domínio na criação da vida. Os primeiros a chegar foram Obatala e sua esposa Yemu, seguidos por outros Orixás Funfun, como Akafojiyan e seu irmão Danko, que se estabeleceram nos bambuzais brancos. Também chegaram Ogiyan, Olufon, Osafuru, Baba Ajala, Olufande e Orixá Ikere, entre outros. Cada um desses Orixás recebeu de Olodumare uma função na Terra, mas sem Olorokê, nenhuma divindade teria descido ao mundo.
Como a primeira terra firme, Olorokê é a base de toda a criação. Ele é inseparável de Obatala e reverenciado como a força e o guardião de todos os Orixás. Sua representação está intimamente ligada à árvore Ose (Baobá), cujas características de altura, solidez e longevidade fazem dela o símbolo escolhido por Olorokê para seu culto. No Brasil, onde há poucos Baobás, Olorokê é cultuado ao pé da gameleira branca, que também serve como local de culto para Iroko, embora sejam divindades distintas.
Olorokê é o guardião de muitos povos em Ekiti, na Nigéria, onde estão localizadas as maiores rochas sagradas para seu culto. Ele participa dos festivais de Yeye Olokun e de Obatala, e sua presença é marcante em toda a tradição religiosa.
O mito continua com Olokun, que, sentindo-se prejudicada pela criação da Terra, tentou recuperar seu espaço, invadindo as terras já formadas. Muitos seres criados foram tragados pelas águas de Olokun. Em resposta, Olodumare ordenou a Oroinã, Aganju, Igbona e Olorokê que formassem uma cadeia de montanhas para isolar Olokun em seu domínio. Enfurecido com a resistência de Olokun, Olodumare a condenou a viver nas profundezas do oceano, onde foi acorrentada e acompanhada por uma grande serpente marinha, que servia como sua mensageira.
Olorokê estabeleceu vários locais de culto, sendo Okiti Ikole sua cidade principal, onde é adorado em um grande Baobá. A reverência a Olorokê é um aspecto essencial da tradição religiosa, simbolizando a força primordial que sustenta a criação e a ordem do mundo.
No Brasil, o culto a Olorokê é relativamente raro e poucos sacerdotes possuem o Igbá (assento) de Olorokê, principalmente devido à falta de conhecimento e tradição específica sobre este culto. Contudo, no Ilê Asé Ojuinã Sorokê Efon, temos a alegria e o privilégio de ter um assentamento dedicado a Olorokê, junto com sua árvore sagrada, o Baobá. Esse assentamento foi generosamente concedido pelo Babalorixá Carlos de Logunedé. A presença de Olorokê em nosso espaço é uma forma de honrar e manter viva sua tradição, mesmo em um contexto onde o conhecimento sobre ele ainda está se expandindo. Este gesto reflete nosso compromisso com a preservação e o respeito pelas tradições que nos conectam ao nosso patrimônio espiritual e as nossas raízes.

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